Eu sempre recebo a pergunta, porque relógio gps não bate com a esteira?
Muitas pessoas que correm em esteira já notaram uma diferença nos dados mostrados pelo relógio gps em comparação com o painel do equipamento.
Às vezes, a esteira registra uma distância maior do que o relógio, enquanto em outras ocasiões ocorre o oposto. O mesmo vale para o pace/ritmo, que pode aparecer mais lento ou mais rápido no relógio do que no visor da máquina. Isso costuma gerar dúvidas, afinal, qual desses valores é mais confiável e por que eles não batem?
Neste artigo, vamos explorar as razões por trás dessas discrepâncias, mostrar como cada dispositivo faz suas medições e indicar formas de melhorar a precisão.
A medição de distância na esteira
A esteira tem um método específico para calcular a distância percorrida. Ela mede quantas voltas a correia completa em determinado intervalo de tempo e, a partir disso, converte esses dados em metros ou quilômetros.
Cada volta da correia equivale a uma distância fixa, determinada pelo tamanho do tapete de corrida. Se o tapete der um certo número de voltas por minuto, a esteira calcula quantos metros você teria percorrido caso estivesse se deslocando para frente em um espaço aberto.
Em geral, esse cálculo é razoavelmente preciso, pois se baseia em uma medição mecânica direta do movimento da correia. No entanto, é possível que existam erros de calibração, especialmente se o equipamento estiver com alguma falha ou não tiver passado por manutenção adequada.
É importante ressaltar que o painel da esteira supõe que você está correndo sobre ela de maneira uniforme e não se apoia nas barras laterais. Se você se apoia ou diminui a movimentação dos braços, a esteira ainda assim contabiliza a distância da correia, independentemente de quanto seu corpo se moveu.
Isso pode levar a uma sensação de discrepância se você comparar com a forma como o relógio está interpretando seus passos. Em todo caso, a medição por rotação do tapete é relativamente estável, desde que o equipamento esteja em boas condições e seja usado conforme as instruções do fabricante.
Como o relógio mede distância e pace
O relógio de pulso, por sua vez, usa métodos diferentes para estimar a distância e o pace. Quando você está ao ar livre, ele costuma recorrer ao GPS para identificar pontos de localização em intervalos de tempo.
Ao analisar a variação desses pontos, o dispositivo calcula o quanto você se deslocou, estimando a distância percorrida e, consequentemente, o seu ritmo de corrida.
Em ambientes fechados, como uma academia, o sinal de GPS geralmente não funciona bem, ou simplesmente não funciona. Então o relógio precisa recorrer a outros sensores internos, como acelerômetros e giroscópios, para tentar adivinhar a distância.
Os acelerômetros detectam o movimento do seu braço e usam algoritmos que convertem essas informações em dados de distância. Se você tiver um relógio que foi “treinado” ao ar livre, ele aprende qual é a sua cadência de passos para determinados ritmos de corrida.
Ao ir para a esteira, ele tenta aplicar esse conhecimento para continuar estimando a distância. No entanto, muitas pessoas mudam ligeiramente a forma de correr quando estão em um ambiente indoor.
Podem balançar menos os braços, variar a cadência de passos ou mesmo segurar as barras de apoio da esteira, dificultando o trabalho do relógio. Esses fatores podem gerar diferenças consideráveis em relação ao que o painel da máquina mostra.
Por que surgem discrepâncias de distância
Uma das principais razões para as diferenças entre o relógio e a esteira está no fato de que o relógio não está medindo diretamente o movimento do tapete, e sim tentando interpretar quantos passos você dá e quão largos esses passos são.
Se, na esteira, você encurtar a passada em comparação com a corrida ao ar livre, o relógio pode subestimar a distância. Por outro lado, se você fizer movimentos exagerados com os braços, ele pode achar que você percorreu mais distância do que realmente aconteceu.
Também há a questão da calibragem. Muitos relógios permitem um processo de calibração, em que você corre uma distância conhecida, como em uma pista de atletismo ou em uma prova de rua, para que o dispositivo aprenda sua forma de correr.
Quando você faz isso com frequência, o relógio se torna mais preciso ao estimar a distância em diferentes cenários. Porém, se você nunca calibrar o relógio ou se ele não tiver essa função, as estimativas podem ficar longe da realidade.
A esteira, por outro lado, já vem calibrada de fábrica, mas também pode sofrer desgaste e precisar de ajustes para manter a precisão.
Diferenças no pace
O pace é o tempo que você leva para percorrer um quilômetro. Se a esteira registra 10 km/h, teoricamente significa que você está correndo um quilômetro em seis minutos. Se o relógio, por alguma razão, entender que você percorreu menos do que um quilômetro nesse mesmo intervalo, ele vai indicar um pace mais rápido.
Isso pode criar a impressão de que o seu desempenho no relógio está melhor do que realmente está. O contrário também pode acontecer: se o relógio superestimar a distância, o pace aparece mais lento do que o marcado na esteira.
É fundamental entender que essas diferenças não significam que um dispositivo está totalmente certo e o outro completamente errado. Cada um está medindo as coisas de maneira distinta.
A esteira calcula a rotação do tapete e supõe que você está acompanhando essa rotação com o corpo. O relógio, por sua vez, se baseia em sensores e algoritmos que podem falhar se o movimento do braço for alterado.
No fim das contas, o que importa é o ambiente onde você está treinando. Quando você treina na esteira é mais preciso usar os dados da esteira e quando treinar ao ar livre, use os dados fornecidos pelo relógio.
Como melhorar a precisão
Uma das maneiras de reduzir as diferenças de medição é calibrar o relógio. Alguns modelos permitem que você faça um treino curto na esteira, em que você informa manualmente ao dispositivo a distância exata percorrida.
Depois disso, o relógio ajusta seus algoritmos internos para ficar mais alinhado com o seu padrão de corrida indoor, mas mesmo assim é provável que você ainda tenha dados diferentes.
Também existe a possibilidade de usar um foot pod, um pequeno acessório que fica no cadarço do tênis e mede diretamente a passada. Esse dispositivo pode ser bem mais preciso do que apenas os sensores de braço, pois detecta o movimento real do pé, reduzindo o risco de erro.
Outro cuidado é verificar se a esteira está em boas condições. Se for um equipamento mais antigo ou pouco conservado, a correia pode estar desregulada, fazendo com que a distância mostrada não seja tão confiável.
Em academias bem equipadas e com manutenção em dia, a probabilidade de a esteira apresentar dados inconsistentes é menor. Ainda assim, pode haver uma pequena variação de modelo para modelo, pois diferentes fabricantes usam calibrações próprias.
O efeito do ambiente indoor na corrida
Quando você corre ao ar livre, enfrenta variações de terreno, vento e temperatura. Na esteira, esses fatores são minimizados ou inexistentes. Por isso, muitas pessoas acabam alterando involuntariamente a forma de correr. É comum, por exemplo, manter os braços mais juntos ao corpo na esteira, ou ficar mais tempo com os pés em contato com o tapete para ter segurança.
Pequenas mudanças assim são suficientes para que o relógio faça uma leitura diferente. O pace que você consegue manter em uma pista ou na rua pode não ser o mesmo que o relógio vai registrar na esteira, ainda que você sinta um esforço semelhante.
É bom lembrar que o relógio se baseia em um histórico de dados do seu movimento, especialmente se for um dispositivo mais avançado. Ele cruza informações de ritmo, cadência e, quando possível, GPS, para tentar prever o que acontece na esteira.
No entanto, se o seu padrão de corrida varia muito, ou se você está iniciando agora, o relógio não tem dados suficientes para fazer estimativas precisas. Nesse caso, vale a pena investir tempo em calibrar o dispositivo ou, se a prioridade for mesmo a corrida indoor, confiar mais nos dados da esteira como referência.
O papel do GPS
Quando o GPS está disponível, o relógio faz um cálculo de distância baseado em pontos de localização. Em ambientes abertos, sem grandes obstáculos, o sinal costuma ser razoavelmente bom, embora possa ter erros de alguns metros em cada atualização.
Ao somar vários pequenos erros, a distância final pode ficar ligeiramente diferente do que você realmente percorreu, mas, no geral, o resultado tende a ser satisfatório para a maioria dos corredores.
Já em ambientes fechados, o GPS não funciona bem. Sinais de satélites não atravessam facilmente paredes ou tetos, e o relógio acaba dependendo quase que exclusivamente dos sensores de movimento. Isso explica por que a diferença entre o relógio e a esteira se torna mais perceptível quando você treina dentro de casa ou na academia.
O que fazer com as diferenças de dados
O ponto principal é manter a coerência no método de medição que você utiliza para avaliar seu progresso. Se a sua meta é melhorar o pace na esteira, foque nos números que ela exibe.
Se prefere comparar corridas ao ar livre e indoor com o mesmo parâmetro, confie no relógio e tente calibrá-lo para aproximar os dados da realidade.
Você também pode anotar manualmente a distância exibida pela esteira e corrigir a informação no aplicativo do relógio depois do treino, caso queira unificar o histórico. Embora seja um pouco trabalhoso, isso ajuda a manter um registro consistente dos seus esforços.
Outra dica é se basear na sensação de esforço. Mesmo que o relógio e a esteira apresentem valores diferentes, você sabe quando está se esforçando mais ou menos. A percepção de esforço é um parâmetro valioso, que complementa os números e ajuda a compreender melhor sua evolução.
Ficar obcecado com alguns metros de diferença pode gerar ansiedade desnecessária, enquanto o objetivo real da corrida é melhorar a saúde, o condicionamento físico e, para muitos, a satisfação pessoal.
Como escolher em qual dado confiar
Decidir se você vai confiar mais na esteira ou no relógio depende do seu objetivo e do contexto em que treina. Se quase todos os seus treinos são indoor e você não planeja correr ao ar livre, pode fazer sentido usar os dados da esteira, especialmente se ela for nova ou bem conservada.
Se você gosta de participar de provas de rua ou alterna com frequência entre corrida externa e indoor, calibrar o relógio e usá-lo como referência pode ser melhor. Assim, você cria um histórico único de corridas, independentemente de onde está treinando, e acompanha a evolução no mesmo sistema.
Se a diferença entre os dados for muito grande e você estiver preocupado com isso, tente algumas experiências. Faça um teste de 5 km na esteira, conferindo o tempo e a distância. Em seguida, verifique o que o relógio marcou.
Ajuste manualmente, se o seu dispositivo permitir, ou faça uma calibragem se houver essa função disponível. Veja se, no treino seguinte, a discrepância diminui. Repita o processo quantas vezes achar necessário, pois, com o tempo, o relógio tende a se adaptar ao seu padrão de passada na esteira.
Em contrapartida, a própria forma como você corre pode mudar conforme o nível de cansaço, a inclinação do equipamento ou o seu humor no dia, então sempre haverá uma margem de variação.
Manutenção da esteira e do relógio
Se você é dono de uma esteira ou a utiliza com frequência em casa, fique atento à manutenção. O acúmulo de sujeira, a falta de lubrificação e o desgaste da correia podem afetar a precisão da distância registrada.
Em academias, é de se esperar que haja um calendário de manutenção, mas nem sempre isso acontece de forma ideal. Por isso, se você notar diferenças muito grandes ou comportamento estranho da máquina, vale a pena relatar ao responsável pela academia ou verificar se o problema está no equipamento.
Quanto ao relógio, mantenha-o atualizado com as últimas versões de firmware fornecidas pelo fabricante. Muitas vezes, essas atualizações incluem melhorias nos algoritmos de medição de distância.
Verifique também se ele está bem ajustado no pulso, pois um relógio solto pode gerar mais oscilações e prejudicar as estimativas de corrida. Se o modelo tiver a opção de “treino indoor” ou “esteira” no menu, certifique-se de selecionar esse modo para que o relógio utilize parâmetros mais adequados à situação.
Considerações finais
Entender por que o relógio não bate com a esteira é fundamental para quem deseja acompanhar a evolução nos treinos de forma mais precisa e sem frustrações.
Esses dispositivos fazem medições de maneiras distintas, e pequenas alterações na sua postura ou na calibragem podem gerar discrepâncias relevantes. Ainda assim, cada ferramenta tem seu valor.
A esteira fornece dados sobre o movimento da correia, enquanto o relógio registra informações baseadas em sensores de movimento e, quando possível, GPS. A escolha de qual dado seguir depende do contexto e das suas preferências pessoais.
O mais importante é manter a consistência e aproveitar o melhor de cada dispositivo para alcançar seus objetivos de corrida. Se você tem acesso a uma esteira bem cuidada e costuma treinar apenas indoor, não há problema em se basear nos dados dela.
Se prefere usar o relógio para todos os treinos, invista tempo em calibrá-lo, considere um sensor de passada e lembre-se de que o ambiente indoor sempre traz limitações para o GPS. Independentemente da decisão, não deixe que as pequenas diferenças de medição atrapalhem o prazer de correr.
Afinal, o foco principal é melhorar a saúde, o condicionamento e aproveitar cada quilômetro, seja na rua ou na esteira.